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terça-feira, 1 de junho de 2010

Saturnino Teixeira


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Zé Pipoca - Foto Adriana Marcon
“eu amo o rádio, o dia que não vejo um microfone fico doente, por que eu me criei no rádio”
Catarinense da cidade de Brusque, Saturnino Teixeira, mais conhecido como Zé Pipoca passou por vários estados brasileiros como Santa Catarina, seu berço, São Paulo, Rio de Janeiro e chega ao oeste do Paraná, mais precisamente na cidade das cobras, em meados da década de 60, onde fincou suas raízes. Apaixonado pelo rádio, em Cascavel ele chega não para abraçar a sua maior paixão, mais sim para atuar como jogador de futebol, no principal time da cidade. Será o destino?


Adriana Marcon - O que motivou a sua vinda para Cascavel?
Zé Pipoca - A minha vinda para Cascavel se deu por que na época o time de futebol do Tuiuti precisava de um jogador que jogasse na ponta esquerda e não encontravam. Como eu era profissional me trouxeram pra cá. Foi quando eu disse: vou pra Cascavel, mas tem rádio lá? Aí me disseram que havia uma rádio, e de fato tinha uma rádio bem pequena. Cheguei em Cascavel e lancei programa sertanejo.
Adriana Marcon - Como aconteceu o seu ingresso no rádio aqui na cidade?
Zé Pipoca - Quando comecei na rádio Colméia, o Dr. Dalmina era o diretor da emissora na época, e me disse que sertanejo não daria certo e que só o ritmo gaúcho dava certo por aqui.
Mas eu insisti, e ele disse então vamos tentar. Lancei o primeiro programa que teve um grande sucesso, se chamava Sertão do Meu Brasil, e ia ao ar da meia-noite às 5 da manhã.
Arquivo Pessoal
Adriana Marcon - Que tipo de programas já comandou?
Zé Pipoca - Fiz todo tipo de programa, sertanejo, gauchesco, tive programa de auditório na rádio Colméia, trabalhei também por um ano na TV Tarobá com um programa humorístico.
No antigo Cine Coliseu, aos domingos fazia um programa que se chamava Domingo Alegre era das 7h da manhã até o meio-dia. O programa era intercalado com sertanejo, gauchesco e juvenil, além de poesias.
Além de radialista, aqui também fui vereador, diretor da liga de futebol de árbitros, e árbitro por 18 anos e hoje tenho título de cidadão honorário da cidade.
Adriana Marcon - Onde a sua carreira no rádio teve início?
Zé Pipoca - Eu era ainda um garoto com 17 anos de idade, cheguei à rádio cantando paródias e contando piadas e o diretor da rádio pediu que eu ficasse lá. Foi assim que comecei a fazer os programas, eu comecei na Rádio Araguaia de Brusque onde nasci, fiquei lá pouco tempo. Depois fui pra Lajes, onde fiz programa sertanejo e após fui pra São Paulo.
Adriana Marcon - Qual a diferença do rádio de quando o senhor começou pra hoje. O que mudou?
Zé Pipoca - Tem uma diferença de 99,9%, por que quando eu comecei no rádio o primeiro disco era de 78 rotações, não podia deixar cair que quebrava por que era de louça. Antes quando se falava em rádio o pessoal ficava admirado, hoje já é comum. O rádio evoluiu muito desde quando comecei. Com a tecnologia de hoje a rádio também ganhou muito. Hoje eu recebo contatos da França, do Japão pela internet, eles podem ouvir meu programa lá. Naquele tempo o rádio era movido à bateria, quando eu comecei aqui nem em Santa Tereza não tinha o sinal de rádio. A energia elétrica era muito fraquinha, então a rádio tinha que ter motor à diesel. De manhã tínhamos que ligar o motor para colocar a rádio no ar, mas com a energia fraca que oscilava bastante, quando colocávamos uma musica tocar ela oscilava por causa da energia.
O radialista de hoje tem muita facilidade, tem sonoplasta, por exemplo. Logo que comecei na Colméia eu fazia tudo sozinho, locução e sonoplastia. Hoje está muito evoluído daqui uns dez anos vocês vão ver muita coisa no rádio, na comunicação.
Arquivo Pessoal
Adriana Marcon - Seu programa Casa de Caboclo, hoje vai ao ar aos sábados das 4h ás 6h da manhã, quem é o seu público?
Zé Pipoca - Recebo em torno de 40 a 50 ligações durante o programa, meu público são guardiões, porteiro de condomínio, feirantes mas o forte mesmo são as pessoas que trabalham no campo.
Adriana Marcon - Como surgiu o nome Zé Pipoca?
Zé Pipoca - Eu tinha uma dupla sertaneja Pimentão e Pimentinha e fazíamos shows, certa vez fomos à São Paulo, na casa dos artistas, que era um local de encontro de artistas de vários lugares, e meu colega começou e ingerir bebida alcoólica e com isso acabou morrendo. Aí fique sozinho dentro de São Paulo, foi então que a turma me perguntava: vai fazer o que aqui agora Catarina? Questionavam-me se não iria arrumar outro par para continuar a cantar, foi que eu disse que iria trabalhar no rádio com programas sertanejos. E um dos colegas disse: mas com esse nome Pimentão? E eu disse não sei ainda vou decidir. Aí ele me disse e se eu lhe der outro nome você aceita? Aí eu disse depende. Ele então olhou na rua e avistou um carrinho de pipoca, e esse colega rapidamente disse vou lhe dar um nome: Zé Pipoca serve? E eu disse que servia. Aí fomos à junta comercial e no sindicato dos artistas e registrei o nome, e dois anos após recebi o título de comendador Zé Pipoca.
Foto: Adriana Marcon
Adriana Marcon - Qual o momento que mais marcou a sua carreira?
Zé Pipoca - O que mais marcou a minha vida no rádio foi na Rádio América de São Paulo, onde perdi diversas oportunidades de ficar “rico”. Na Rádio América eu era muito estimado e me ofereceram até o cargo de diretor artístico. E perdi essas oportunidades por que queria muito voltar pra minha terra natal, Santa Catarina, mas aí vim pra Cascavel pra jogar futebol e fiquei aqui.
Adriana Marcon - Qual a mensagem que o senhor deixa aos novos comunicadores?
Zé Pipoca - Falta muita coisa para esses profissionais, em primeiro lugar o orgulho, nós não podemos ser assim, temos que, com dor de barriga ou dor de cabeça, tratar todos com respeito. É do povo que nós fazemos o rádio, o ouvinte é que leva o rádio, por exemplo. Nós temos que ser muito humildes, a humildade faz o comunicador alcançar o sucesso. Com educação, com esmero e com capricho nós temos que ser assim.

Zé Pipoca como era conhecido nos deixou em 09/05/2012 aos 94 anos. O radialista estava afastado dos trabalhos desde 2010 por motivos de saúde.

Esta reportagem foi carinhosamente cedida à Rádio Colméia e encontra-se disponível no site no seguinte endereço http://radiocolmeia.com.br/jornalismo/um-pouco-da-historia-do-comunicador-ze-pipoca/

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